segunda-feira, 2 de julho de 2012

A descoberta de recursos minerais e hidrocarbonetos tanto podem gerar riqueza e desenvolvimento como podem gerar conflitos e pobreza.

O nosso solo é rico em, carvão, fosfatos, ouro, tantalite, fluorite, rubi, diamantes, urânio, além de ter madeiras preciosas e de apresentar condições excepcionais para a agricultura e dispor de um vasto potencial em recursos hídricos particularmente no vale do Zambeze. A nossa costa é rica em camarão, peixe e variados crustáceos e muito recentemente foram descobertas consideráveis reservas de gás natural ao longo da zona denominada de Bacia de Rovuma que é um prolongamento da vasta bacia do indico e que no período pré-colonial era parte integrante do antigo império afro-xhiraz do qual faziam parte o Oman, a Somália (Mogadíscio), o Quénia (Mombaça), a Tanzânia (Zanzibar) e os Sultanatos do norte de Moçambique.

A descoberta destes recursos, em alguns países, nem sempre têm gerado concórdia e desenvolvimento existido casos de relativos sucessos mas também casos de discórdia e conflitos e cabe a cada um nós enquanto cidadãos de pleno direito deste país, contribuir na busca das melhores praticas visando assegurar que a exploração destes recursos beneficiem de forma equitativa a todos e que possam, de facto, contribuir para a estabilidade e o desenvolvimento harmonioso de todos.

Existem vários exemplos de países onde a descoberta deste tipo de recursos ao invés de gerar riqueza e bem-estar da população, aumentando-se os índices de desenvolvimento humano, acabaram por gerar pobreza, discórdia e até mesmo violência. Citemos por exemplo os casos da Serra Leoa e da República Democrática do Congo onde abundam o ouro, diamantes, cobre e cobalto mas que nas últimas décadas estão mergulhadas em guerras civis que contribuem para o perpetuar da pobreza e inviabilizam os objectivos de conferir mais justiça, segurança e bem-estar social das suas populações. Um outro exemplo muito propalado e onde estes recursos acabaram por ser uma maldição para as suas populações é o caso da Nigéria que não obstante ser considerado o maior produtor africano de petróleo, 60% dos seus mais de 135 milhões de habitantes vivem abaixo do limiar de pobreza.

Para além do continente africano são também sobejamente conhecidos os casos da América Latina, nomeadamente o Equador e a Venezuela para além das conhecidas e famosas monarquias árabes. Por exemplo, a maioria das monarquias do golfo não têm sabido gerir com transparência as suas riquezas e pouco têm contribuído para o desenvolvimento harmonioso das suas populações. Ao invés de aproveitarem das receitas geradas pelo petróleo para modernizar, diversificar e tornar competitivas as suas indústrias e melhor preparem-se para a era pôs petróleo, transformando-se em países exportadores de mercadorias com valor acrescentado e de tecnologia, perpetuam-se como importadores de quase tudo, por excelência.

Excepções a regra têm sido os casos dos Emirados Árabes Unidos e o Qatar que utilizando as receitas do petróleo e do gás natural montaram uma rede de infra-estruturas modernas que inclui aeroportos, portos, estradas, habitação social e um ensino moderno e de elevada qualidade e transformaram esta região num centro de turismo, comércio, tecnologia e indústria. Por exemplo hoje, o petróleo representa apenas 7% do PIB do Dubai e a economia cresce 16% ao ano e as populações usufruem de um rendimento “per capita” de acima de 23.000 dólares anuais e não pagam impostos sobre rendimentos para além de muitos outros benefícios sociais.



Portanto, não somente existem maus exemplos na aplicação das receitas geradas por estes recursos como também existem boas práticas e exemplos a serem adaptados a nossa realidade e que podem gerar riqueza, harmonia e estabilidade duradoira da nossa sociedade e nem sempre estes recursos são uma fatalidade, pois eles não constituem em si um problema mas na falta de democracia e de uma boa governação, os mesmos podem transformar-se num pesadelo e numa maldição para quem os detenha.

Moçambique esta na fase da descoberta em simultâneo de inúmeros recursos que podem potencializar o crescimento económico e principalmente o desenvolvimento do nosso país. É hora de olharmos para os bons e maus exemplos de forma a adoptar-se a melhor estratégia de gestão destes recursos aproveitando-se das experiencias positivas e evitando-se os erros cometidos por outros países como por exemplo a corrupção e a falta da transparência generalizada.

 O problema da corrupção na exploração destes recursos não deve ser visto apenas como um problema interno de cada governo mas sim do interesse de todas as partes pelo que as companhias petrolíferas e mineiras internacionais devem também como forma de colaborar com os cidadãos dos países onde exploram estes recursos tornar publico o que pagam aos respectivos governos.

A Corrida desenfreada dos países desenvolvidos pelo petróleo e mais recentemente pelo gás natural têm também contribuído para o agravar da corrupção nos nossos países, pois as companhias destes países não hesitam em pagar elevados subornos pelo acesso preferencial na exploração destes recursos e não raras vezes são elas mesmas as principais promotoras das discórdias e dos conflitos internos que surgem nos nossos países visando obter vantagens ou preferências na exploração dos recursos existentes. 





Para que haja transparência na gestão das receitas é também extremamente importante ter-se uma imprensa independente, livre, actuante e acima de tudo comprometida com o interesse nacional e uma sociedade civil robusta e atenta e que as companhias petrolíferas e mineiras sejam obrigadas, por lei, a publicarem o que pagam ao governo. É também importante que não nos deixemos embebedar por algumas benesses que as receitas destes recursos possam trazer na melhoria pontual das nossas vidas e que não sejamos cúmplices na negligência no investimento em sectores vitais de desenvolvimento a médio e longos prazos. É urgente conceber-se um plano estratégico de desenvolvimento nacional que seja concebido e adoptado consensualmente por todos os cidadãos. A Agenda 2025 pode representar esta opção estratégica e onde os sectores da educação, saúde, habitação, infraestruturas, entre outros, devem necessariamente constituir-se num imperativo nacional e de consenso de todas as forcas vivas da sociedade. Portanto, unamo-nos numa agenda nacional de desenvolvimento e sejamos capazes de aceitar aprender das boas pratica e evitar as más práticas de outras realidades que conhecemos. Não será necessariamente importante inventar a fórmula mas sim estudar as várias fórmulas desde a experiencia da Noruega, Qatar, Emiratos Árabes Unidos e outras bem-sucedidas e saber tirar lições daqueles experiências menos felizes de modo a sermos capazes de usar as receitas geradas pela exploração destes recursos na promoção do nosso desenvolvimento mas sem nunca esquecermo-nos que somente unidos e coesos seremos capazes de vencer mais esta etapa da nossa história como povo e país. Não nos esqueçamos que todos estes recursos pertencem a todos os moçambicanos.




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