sexta-feira, 20 de julho de 2012

A NECESSIDADE DE HAVER UM MAIOR RIGOR NO CONTROLO MIGRATÓRIO.



A crise financeira que se vive na maioria dos países europeus, os conflitos vividos em muitos países africanos e asiáticos, associados a estabilidade que se vive em Moçambique e as recentes descobertas de consideráveis reservas de carvão mineral, gás, petróleo, entre outras vantagens competitivas que transformaram o nosso país num local atractivo para se viver e fazer a vida, têm atraído imigrantes dos vários quadrantes do mundo e que devem merecer uma reflexão profunda de todos os cidadãos.

É um facto que desde os tempos remotos que os seres humanos movimentam-se de um continente para o outro e dentro dos próprios continentes. Nos tempos mais recentes, a mobilidade de pessoas transformou-se na grande conquista da globalização e países como os Estados Unidos da América, Austrália, Brasil, entre outros teriam enormes dificuldades em manter o actual ritmo de desenvolvimento e crescimento económico não fosse o contributo que a imigração representou e ainda representa nesses países. Veio­-me a memória as recentes palavras de gratidão do Presidente Barack Obama dirigidas ao Primeiro-ministro da Índia, pelo contributo que a comunidade de origem indiana tem dado na manutenção do desenvolvimento dos E.U.A. onde estes imigrantes representam hoje aproximadamente 4 milhões de cidadãos e a sua comunidade é considerada a minoria mais educada e rica da América e assegura o contínuo desenvolvimento da informática neste país. Não é por acaso que as famosas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) já são consideradas como sendo as Indian Chinese Tecnology (ICT) na América. O desenvolvimento actual da Índia tem dependido, em parte, das remessas que os seus imigrantes no mundo, particularmente na América e na Grã-Bretanha, enviam para o seu país de origem. Temos aqui um bom exemplo de como a imigração pode ser benéfica e trazer vantagens para o país de acolhimento e para o país de origem dos imigrantes. Mas também temos vários exemplos onde a imigração mal planificada também contribuiu para o aumento das desigualdades no acesso aos recursos e não raras vezes na instabilidade e no aumento da criminalidade nos países de acolhimento. Portanto, é nosso dever reflectir sobre o actual estágio da imigração no nosso país e produzir as recomendações que visam adoptar as melhores pratica nesta matéria. O nível de desgoverno que se vive no controlo fronteiriço e as facilidades com que os imigrantes encontram no acesso aos documentos de identificação civil reservado aos cidadãos nacionais, deve preocupar a todos nós e muito em particular as autoridades governamentais. É verdade que o nosso país ainda tem carências em termos de mão-de-obra qualificada para a fase de desenvolvimento que se almeja e precisamos de formar cidadãos nacionais e eventualmente aceitar a imigração de quadros qualificados e necessários a esta fase de desenvolvimento mas o processo deve ser planificado e as regras devem ser claras e consensuais entre nós. Hoje ninguém sabe dizer com exactidão quantos imigrantes entram legal ou ilegalmente no nosso país, quantos adquirem legal ou ilegalmente a documentação de residência e inclusive a nacionalidade originária acarretando todas as implicações que estes actos poderão significar no futuro e contribuindo para o aumento de desempregados nacionais, entre outros males sociais que merecem a atenção e preocupação de todos. Não sou contra a imigração mas em qualquer parte do mundo, a imigração deve ser selectiva e contribuir para superar as lacunas existentes em quantidade e qualidade de mão -de – obra qualificada. É preciso que fique bem claro a diferença entre refugiado que por algum motivo procure temporariamente o nosso país para se abrigar e que para o efeito existem instrumentos internacionais e validamente ratificados pelo nosso país e os imigrantes que buscam o nosso país para viver definitivamente ou por longo prazo. São duas coisas distintas e devem merecer, portanto, tratamento diferenciado. O Ministério de Planificação e Desenvolvimento deveria liderar o processo visando aferir quantos cidadãos o país tem necessidades e condições de acolher, quais as suas qualificações técnicas, em que locais do país seriam melhor enquadrados, qual a legislação necessária para melhor gerir esta situação, entre outras cautelas para que a imigração seja uma bênção e não uma maldição. É preciso que os cidadãos moçambicanos estejam conscientizados da necessidade de se promover, de forma organizada, a imigração sem nunca descurar da pertinência e urgência de se acelerar o processo de formação de cidadãos nacionais para assegurar os desafios que se exigem ao país nesta fase do seu desenvolvimento. É necessário que fique claro que os nacionais devem gozar de prioridade no acesso ao mercado de emprego e nos recursos disponíveis e que a imigração de quadros qualificados deve ser uma excepção condicionada a carência imediata ou de curto prazo e nunca por causa de uma carência de médio e longos prazos. O governo deve ter a capacidade de, em parceria com o sector privado e comunitário, planificar e formar os quadros nacionais com a qualidade e urgência necessária. A nossa estabilidade social futura irá depender em grande medida destes desafios momentâneos e da forma como soubermos adoptar as medidas mais adequadas perante este cenário. Concordo que o nosso país não deva ser uma ilha mas também convenhamos que não seria sensato escangalhar as portas e deixarmos entrar todos quantos desejam, sem regras, sem controlo e sem prioridades. Enquanto cidadão nacional e pagante de impostos, sinto-me no direito e na obrigação de exigir um maior rigor e uma maior planificação e organização dos serviços de migração e de identificação civil e julgo ser tempo de se olhar para esta situação, desprovida de complexos e de preconceitos e de se adoptar as medidas cabíveis quer na lei quer ainda no estrito respeito aos interesses nacionais e soberanos do nosso país. Haja vontade e urgência para de forma desapaixonada promover-se o debate nacional sobre esta problemática que bem estudada e ponderada poderá ser transformada numa bênção e não numa maldição e que se adoptem medidas práticas para se combater a corrupção e o compadrio nas instituições públicas que lidam com esta matéria.

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