domingo, 8 de julho de 2012

AS RECENTES DESCOBERTAS DE CARVÃO E GÁS NATURAL E OS DESAFIOS QUE ESTAS IMPÔEM AO NIVEL DA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA E DO ESTADO EM MOÇAMBIQUE.


Diferentemente do que acontecia nos anos passados em que o nosso país merecia, por parte das organizações internacionais, avaliações predominantemente negativas, temos vindo a assistir, com agrado, nos últimos meses,  a uma tendência destas mesmas organizações começarem a avaliar-nos positivamente, em algumas áreas, o que de certo modo nos conforta mas também não deixa de ser um desafio. Já começa a ser recorrente o facto de citarem Moçambique como sendo um país promissor em termos de crescimento económico, rapidez com que processa as reformas legais e institucionais, relativamente estável e com uma paz duradoira e acima de tudo, com reservas de gás que ocupam a 4ª posição no ranking mundial, logo depois da Rússia, Irão e do Qatar. Estas avaliações têm sido feitas por organismos aparentemente credíveis e merecedores do nosso maior apreço, refiro-me a revista Britânica ’’Economist”, a Global Integrity, ao BPI, entre outros.

Se por um lado estas avaliações começam a ser-nos favoráveis, no entanto, os desafios continuam ainda grandes e a merecerem a preocupação de quase todos. Moçambique contínua carente em infra-estruturas apropriadas aos desafios que se colocam, nomeadamente quanto as ofertas em transportes, energia, saneamento, saúde e essencialmente em de mão – de - obra qualificada. A falta de pessoal qualificado nas áreas de engenharia mineira, civil, mecânica, electrónica, entre outras, incluindo até mesmo de pedreiros, carpinteiros, serralheiros, canalizadores, maquinistas é visível. Portanto, os desafios continuam a ser elevados e existem sérias dúvidas com relação a nossa capacidade de superar estes desafios a curto e médios prazos. Naturalmente que tudo irá depender da vontade política dos nossos governantes actuais e da sua ousadia em fazer as coisas acontecerem. Teremos necessariamente de passar do discurso a pratica e nunca deixar que os discursos bem-intencionados de elevar a nossa auto-estima nos conformem por si só. Existe ainda o desafio de alargar a base tributaria de modo a que os mega projectos passem a pagar impostos gerando as receitas internas indispensáveis para sustentar as reformas e a dinâmica que teremos de imprimir na promoção da educação e saúde de qualidade, na construção de infra estruturas, no acesso a agua e saneamento, no acesso ao transporte, principalmente publico e urbano, dentre outros desafios de curto e médio prazos. Naturalmente que teremos também de recorrer ao endividamento externo com vista a financiar todas estas reformas.

A par destes desafios, deparamo-nos com um outro ainda maior que é o de assegurar o direito a justiça e acima de tudo, a uma justiça célere. Tanto a nossa Lei mãe como a Carta Africana de que o nosso país é signatário, prevêem o direito a justiça em tempo útil. A dinâmica que se irá processar com o desenvolvimento de grandes investimentos, particularmente privados na indústria extractiva e de exploração dos hidrocarbonetos e toda a atracção de investimentos associados a estas indústrias, requerem um sistema de justiça célere e moderno e não acredito que com a actual morosidade e até mesmo resistência a mudança de atitude que se verifica, em alguns dos nossos tribunais e muito em particular no Tribunal Supremo, possamos, a curto e médio prazos, estar a altura de acompanhar a dinâmica que se exige nesta fase crucial do nosso almejado desenvolvimento. É extremamente importante que o Estado dê sinais claros e inequívocos de que está de facto comprometido com as reformas e as dinâmicas que se exigem nesta fase e imprima as reformas decisivas para que o nosso Tribunal Supremo deixe de ser considerado como sendo o ’’ cemitério dos processos’’ e passe a ser a instituição que garanta o direito constitucionalmente consagrado de uma justiça célere e eficaz e passe a dignificar o país. É urgente inverter-se o estágio actual de inoperância e de burocratismo que caracteriza a nossa justiça, particularmente ao nível do Tribunal Supremo. Por exemplo, são conhecidos casos de cidadãos que esperam a vida toda por uma decisão deste Tribunal, havendo inclusive casos de cidadãos que até já perderam a vida sem que as causas por eles submetidas as instâncias judiciais moçambicanas, tenham merecido um desfecho definitivo. Como se não bastasse, o longo tempo de espera para que as suas causas sejam analisadas e julgadas em primeira instância, o tempo de espera duplica ou até mesmo triplica quando estas causas sejam submetidas às instâncias de recurso. Esta situação constitui, na minha opinião, uma verdadeira denegação de justiça e até mesmo uma inconstitucionalidade por omissão, o que convenhamos, é extremamente grave, particularmente se tivermos em conta que são as instâncias judiciais, as entidades que deveriam velar pelo cumprimento dos preceitos constitucionais e no entanto, são elas mesmas a violarem a própria Constituição. A institucionalização dos Tribunais Superiores de Recurso, a expansão do Tribunal Administrativo pelas capitais provinciais e a recente eleição do Provedor de Justiça pela Assembleia da Republica são conquistas que merecem o nosso apreço mas que ainda é prematuro para fazer-se uma avaliação justa quanto ao seu real funcionamento e contribuição na garantia de uma justiça em tempo útil.

Portanto, é tempo de acelera-se as reformas nesta área em especifico e prepara-se o país para a nova realidade com que passará a ter de se relacionar, assegurando a estabilidade dos investimentos nacionais e estrangeiros, a celeridade processual e a confiança dos investidores no nosso país e em primeiro lugar a elevação da nossa auto estima como cidadão deste país. Haja vontade, pois o desafio é de todos e a todos vincula.


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