De acordo com o Jornal Notícias do dia 27 de
Fevereiro de 2013, o governo moçambicano, em estreita obediência à Lei que
estabelece o quadro jurídico para as Eleições do Presidente do Conselho Municipal
e para a Eleição dos Membros da Assembleia Municipal, acaba de aprovar uma
resolução convocando as IV Eleições Autárquicas para o dia 20 de Novembro de
2013.
Este posicionamento do Governo
dissipa, por completo, todas as especulações no sentido de o governo pretender
adiar as eleições autárquicas previstas para este ano e remete-nos para uma outra
reflexão que julgo pertinente dada a situação dramática que ainda se vive por
causa das cheias que atingiram grande parte do nosso país.
Os estragos causados pelas
cheias vão requerer inúmeros recursos materiais e financeiros para a reabilitação
das infra-estruturas destruídas, implicando necessariamente a reformulação do orçamento
de funcionamento e de investimento do Estado e afectando decisivamente muitas
das actividades e investimentos inicialmente programados e que muita falta faz
ao nosso país.
Paralelamente se fizermos uma avaliação
imparcial do estado das estradas e do sistema de drenagem das cidades autárquicas
e muito em particular das capitais provinciais, podemos constatar, com preocupação,
que, neste momento, não existe nenhuma cidade capital com estradas em condições
de transitabilidade e nem com o sistema de drenagem a funcionar devidamente.
É verdade que algumas dessas
cidades, como é o caso da Cidade de Maputo e da Beira, receberam, nos últimos anos,
mais de cem milhões de euros para a reabilitação dos seus sistemas de
saneamento e, portanto, já deveriam ter ultrapassado este tipo de problemas. É também
um facto que alguns Edis como é o caso das cidades de Inhambane, Quelimane,
Pemba e Cuamba foram eleitos há pouco mais de um ano e portanto necessitam de
mais tempo para acertar o passo nestas áreas estratégicas de governação municipal,
bem como é também verdade que os recursos que lhes são alocados pelo governo
central são insuficientes para a realização plena das suas actividades.
Assim, no meu entender,
qualquer reforço adicional aos actuais orçamentos municipais, seria bem-vindo e
oportuno neste momento em específico.
Portanto, é urgente tentar
entender o que estará a falhar para que os automobilistas e os munícipes em
geral continuem a sofrer e buscar-se, de uma vez por todas a solução apropriada
e duradoira que permita reverter definitivamente este estado de coisas nas
nossas cidades autárquicas.
Mas qualquer que seja a pretensão
do governo central no tocante a reparação dos danos causados pelas cheias em
quase todo o país bem como na reparação ou reabilitação das estradas e do
sistema de esgotos das nossas cidades autárquicas, irão requerer recursos
adicionais e emergenciais que, como é do domínio público, nem sempre estão disponíveis
e acessíveis como seria de desejar.
Portanto, independentemente do
esforço que o governo central deve dedicar para se apurar o que estará a falhar
nas governações autárquicas, no tocante as estradas e aos sistemas de
saneamento, qualquer decisão visando inverter os problemas actualmente
vivenciados nas nossas autarquias bem como reparar os estragos causados pelas
cheias, vão certamente requerer que o governo central aloque mais recursos e em
tempo oportuno.
Ora, se todos sabemos que a
realização, no ano em curso, das eleições autárquicas não irá trazer qualquer alteração
duradoira na qualidade das estradas e do saneamento, pois todas as reabilitações
serão feitas às pressas com vista a iludir os eleitores para que alguns mandatos
possam ser renovados, e que a realização das eleições irá despender inúmeros
recursos financeiros e materiais, então, porquê não pensarmos na hipótese de realizar
simultaneamente as eleições autárquicas e gerais em 2014?
A meu ver, esta opção permitiria
ao Estado moçambicano poupar os recursos necessários para custear parte das
actividades relacionadas com a reabilitação das infra-estruturas danificadas
pelas cheias em todo o país e das estradas e sistema de drenagem que actualmente
afectam a qualidade de vida dos munícipes em todas as cidades e permitiria que
os actuais Edis pudessem dedicar mais tempo e recursos na reabilitação das
estradas e demais infra-estruturas que afligem aos munícipes.
A realização das eleições autárquicas
e gerais em simultâneo no próximo ano e nas eleições subsequentes iriam
possibilitar poupanças ao estado moçambicano e maior produtividade a economia
nacional, pois como todos sabemos, no ano em que se realizam eleições, a
produtividade do sector quer seja público como privado é afectada. Por outro
lado, tanto a Comissão Nacional de Eleições (CNE) como os partidos políticos poupariam
mais tempo e recursos quer sejam financeiros como materiais. Menos gastos com a
aquisição de material de eleições e de campanha seriam despendidos e mais
recursos seriam poupados e realocados para outras actividades prioritárias e indispensáveis.
Pessoalmente, não sei quem é que seria o mais beneficiado
com a realização das eleições neste ano: se o cidadão/ munícipe ou se os
partidos políticos?
Penso que deveríamos todos de
forma imparcial e despidos de qualquer pretensão político-partidária fazer este
exercício reflexivo e utilizar todos os mecanismos legais ao nosso alcance para
operacionalizar as opções que melhor sirvam aos interesses nacionais. De resto,
não seria esta a primeira vez que o nosso país tomaria uma decisão nesse
sentido, pois se estivermos recordados, em 2008 decidimos adiar as eleições
provinciais para que estas se realizassem em simultâneo com as eleições gerais
de 2009.
Haja vontade para que de forma
soberana possa fazer-se a opção que melhor sirva aos interesses nacionais e que
saibamos também respeitar qualquer que seja a decisão que soberanamente o nosso
Estado adoptar quer seja para realização simultânea das eleições em 2014 quer
seja ainda para realização das eleições autárquicas em 2013.
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