Um cidadão moçambicano de nome
Mido Macie, de 27 anos de idade, residente na África do Sul e que trabalhava
como taxista, morreu, na semana passada depois de ter sido algemado, por um
grupo de oito polícias sul-africanos, nas traseiras de uma viatura e arrastado,
num percurso de 400 metros, causando-lhe ferimentos graves que culminaram com a
sua morte.
Este acto macabro foi cometido
em plena praça pública, perante o olhar impávido dos cidadãos e tudo por causa
de uma eventual transgressão ao código de estrada. O acto foi
entretanto filmado por uma testemunha através do seu telemóvel e percorreu o
mundo, causando revolta e indignação nas pessoas quer seja em Moçambique como
no estrangeiro.
Ora,
este tipo de práticas, por parte das autoridades policiais sul-africanas, nos últimos
anos, têm sido recorrentes e não obstante os criminosos serem levados a barra
dos tribunais, as sentenças nem sempre são as mais acertadas de modo a
desencorajar este tipo de situações bem como não tem havido também, por parte
das nossas autoridades governamentais, uma acção clara e contundente no sentido
de se exigir o estrito respeito pelas convenções e tratados internacionais, em
que ambos os estados são signatários, de modo a exigir-se uma punição severa e exemplar
bem como a reparação pelos danos morais e materiais à favor das famílias das vítimas.
Na
época em que vigorou o regime segregacionista e racista na África do Sul, estávamos
todos conscientes das limitações que o nosso estado tinha para fazer uso das disposições
internacionais e exigir-se um maior respeito pela vida e pela dignidade dos
nossos cidadãos. Mas hoje já não se pode aceitar que depois de se ter sacrificado
vidas humanas e hipotecado a nossa economia e a nossa soberania, durante a luta
anti – apartheid, tenhamos ainda que tolerar que as nossas vidas e a nossa
auto-estima sejam macabramente humilhadas pelas autoridades de um estado que muito
deve ao nosso povo.
Devemos
todos exigir que as nossas autoridades governamentais façam uso do poder
conferido pelos moçambicanos, para exigir um julgamento célere e justo de modo
a que os polícias assassinos do nosso concidadão sejam exemplarmente condenados
e punidos e que o Estado Sul-africano indemnize de forma justa e adequada a família
do jovem Mildo Macie.
E,
caso denote-se, por parte das autoridades sul-africanas, a denegação ou o
incumprimento da justiça em tempo útil, conforme reza a Carta África dos
Direitos dos Homens e dos Povos, que sejam accionados todos os mecanismos legais
junto do Tribunal Africano dos Direitos Humanos para que o Estado Sul-africanos
seja condenado e punido a proceder a reparação moral e material dos danos
causados à família do malogrado pelo crime cometido pelos seus agentes do
estado.
Portanto,
é tempo de dizermos basta a diplomacia silenciosa.
É
importante que o nosso estado perceba de uma vez por todas de que não existem relações
de amizade entre os estados e sim relações de interesse.
Portanto,
se os nossos interesses estão a ser constantemente postos em causa, cabe então
ao nosso estado exigir o respeito dos mesmos no âmbito da reciprocidade que
deve caracterizar as relações entre os estados.
A
sociedade civil moçambicana, através da Liga dos Direitos Humanos tomou a decisão
nobre marchar até a representação diplomática sul-africana e fazer a entrega de
uma carta exigindo o fim deste tipo de situações e a condenação exemplar dos polícias
envolvidos neste macabro crime bem como a reparação pelos danos morais e materiais
à família Macie.
Cabe
agora, ao nosso Estado adoptar uma acção firme e contundente perante este caso de
modo a desencorajar o surgimento de novos casos no futuro imediato e não ficar
acomodado com um simples pedido formal de desculpas por parte das autoridades
sul-africanas. A vida e a dignidade dos nossos cidadãos não podem e nem devem
ser compensadas por um simples pedido de desculpas mesmo que formal.
É
preciso que as autoridades sul-africanas demonstrem de facto e de direito que não
compactuam com atitudes assassinas e repugnantes, adoptando medidas punitivas,
reparadoras e cautelares que permitam renovar e consolidar as nossas relações bilaterais
e de boa vizinhança.
Do
mesmo modo que as autoridades sul-africanas lutam por preservar o respeito
pelos seus interesses e pela auto-estima do seu povo, devem também as nossas
autoridades exigir que a nossa auto-estima e os nossos interesses não sejam
hipotecados e nem postos em causa por quem quer que seja.
Somos
um estado independente e soberano e delegamos, nas autoridades governamentais,
parte do nosso poder para que garanta-nos a justiça, a segurança e o bem-estar
social.
Ilustre!
ResponderEliminarAcho interessante o seu texto. Eh um bom exercicio de cidadadia! No entanto, acho que faltam, aqui, alguns esclarecimentos de detalhe!
Primeiro, a que eh que se refere a diplomacia silenciosa?! Esse conceito eh bastante mediatizado, e, muitas vezes, se esquece que surgiu na midia! Esse conceito esta associado ao silencio que o Presidente mbeki fazia em relacao a sua mediacao no "caso zimbabweano". Sera que aqui se refere diplomacia silenciosa porque o governo mocambicano nao providencia informacao a midia em relacao ao caso "Mido" Macie?!
Que evidencias existem para "catalogar" de diplomacia silenciosa a actuacao de mocambique neste caso?!
Se o estado mocambicano tomar uma atitude firme como sugere, sera que a diplomacia deixara de ser silenciosa?!
Segundo, notei no seu texto uma identificacao incorrecta do jovem mocambicano! O nome dele eh Emidio Macia, mais conhecido por "Mido" que acredito ser diminuitivo de Emidio. No seu texto, o nome que aparece repetidamente eh Mildo e nao Mido. Alem disso, este diminuitivo deveria ser colocado entre aspas.
Terceiro e ultimo, gostaria de dizer que a sua sugestao carrega consigo um grande paradoxo. Se, por um lado, eh legitimo que os estados exijam uma atitude firme na justica perante a violacao dos direitos dos seus cidadaos, por outro lado, a forma firme como isso for feito pode significar interferencia politica, violacao de soberania, respespito pela independencia do sector da justica. Aqui eh importante lembrar que em mocambique esta a ser travado um combate cerrado contra a politizacao do sector da justica. Isto desafia a nossa coerencia em relacao a exigencia que fazemos aos sul-africanos e a que fazemos ao estado mocambicano. Do ponto de vista diplomatico, a exigencia de atitude firme eh um risco que deve ser seguido com ponderacao, pois a forma como isso for feito pode resolver um problema hoje, mas pode criar problemas maiores no futuro que podem por em causa todo o estado! Sera que este eh momento para assumir riscos que ponham em causa o estado?!
Acho que a accao mais firme, energica e mais efectiva deve vir da sociedade civil. Deve vir de um exercicio firme de cidadania. Na cidade onde "Mido" vivia fizeram um protesto firme. E nos?!
Abraco