Comemoramos,
há menos de um mês, 20 anos de concórdia e de harmonia entre os moçambicanos. Festejamos,
cada um à sua maneira, os 20 anos de paz. Estes 20 anos testaram a nossa
capacidade e vontade de viver em harmonia e demonstraram que a paz é o bem mais
precioso que temos mesmo quando comparado com as recentes descobertas de
importantes jazigos de carvão, gás natural e outras riquezas disponíveis no
nosso solo pátrio. As riquezas só se tornarão numa bênção se os nossos actuais
governantes e políticos souberem preservar a paz e a concórdia entre os moçambicanos.
De contrário toda a riqueza não passará de uma maldição e as elites políticas actuais
poderão, um dia, ser julgadas e condenadas pelas gerações vindouras por terem
promovido a desgraça e a humilhação dos seus concidadãos que nada tinham a ver
com a ganância desmedida de alguns governantes e políticos e que não souberam,
na altura, enxergar que somente dialogando, ampliando os espaços de participação
política e repartido os benefícios dos recursos naturais de forma equitativa é
que se poderia construir uma sociedade justa e estável. A arrogância e o
sentimento de vencedor de nada servirão se o país acordar aos tiros. A
propalada auto estima e o orgulho de ser moçambicano somente terá sentido se
nos próximos 20 anos voltarmos a comemorar, em paz, mais 20 anos de paz ininterrupta.
O resto “é conversa para boi dormir”.
Certamente
que haverá muita gente, aparentemente de bom senso, que estará interessada na discórdia
e no desentendimento entre os moçambicanos, pois, só assim, poderão tirar
maiores dividendos das riquezas do nosso país. Não restam dúvidas de que a
nossa discórdia servirá aos interesses alheios aos desígnios nacionais e perpetuará
a nossa pobreza e o nosso subdesenvolvimento socioeconómico. Divididos nunca poderemos
usufruir condignamente das nossas riquezas e nem sequer distribuir, de forma
justa e equitativa, os benefícios destes mesmos recursos pelos cidadãos deste país,
que é a razão de existência dos nossos governantes.
Preocupa-me
e por vezes até repugna-me escutar algumas vozes que encaram com desprezo ou
com indiferença as reivindicações constantes do Líder da Oposição, Afonso Dhlakhama
e seus correligionários. Não restam dúvidas de que muitas das suas reivindicações
deveriam ter sido acauteladas durante as negociações que culminaram com a
assinatura dos Acordos de Paz em Roma e que deveriam ter sido implementadas
durante a vigência desses acordos ou seja no período anterior as primeiras eleições
multipartidárias ou ainda na pior das hipóteses antes da entrada em vigor da
nova Constituição da República que foi aprovada por consenso e unanimidade pela
Assembleia da República. Certamente que isto não aconteceu porque algo falhou, e,
se algo falhou, naturalmente que as culpas deverão ser repartidas por ambas as
partes, signatárias dos Acordo e que a maior responsabilidade deverá ser atribuída
a quem detêm o poder político efectivo: ao governo do dia. E cabe, portanto, neste
caso em apreço, às autoridades governamentais e a liderança da RENAMO sentarem à
mesa e corrigirem o que tiver de ser corrigido sem precisar de intermediação
externa e, mais do que nunca, sem antes pôr em causa a nossa dignidade como Estado
soberano.
Não nos
esqueçamos, caros cidadãos, que as actuais reivindicações do Líder da Oposição,
Afonso Dhlakhama, têm sido repetidas ao longo dos anos e muitas delas têm também
sido repetidas pela sociedade civil em geral e muito recentemente pela Igreja Católica.
Tanto a sociedade civil moçambicana como os religiosos moçambicanos têm
exprimido a sua indignação e condenação pela excessiva partidarização do Estado,
pela forma pouco transparente como os processos eleitorais têm decorrido, pela ausência
de uma lei eleitoral consensual que propicie eleições justas, livres e
transparentes, pela exclusão ou reforma compulsiva dos soldados provenientes da
RENAMO no exército moçambicano, pela predominância das elites económicas do
partido no poder e mais recentemente de uma única ala deste partido nos benefícios
das riquezas nacionais em detrimento de outros actores políticos e do cidadão em
geral, etc.
Portanto,
tudo o que o Líder da Oposição, Afonso Dhlakhama, hoje tem estado a reivindicar
não é novidade para ninguém e varias foram as iniciativas de diólogo
desencadeadas e promovidas tanto por ele como pelo anterior Presidente da República,
Joaquim Chissano assim como pelo actual Presidente, Armando Guebuza, tudo visando
aproximar as partes e encontrar-se as soluções mais apropriadas e que
satisfizessem ambas as partes. Esses encontros foram sempre encorajados e
enaltecidos pelos moçambicanos. Mas, para que hoje, mais uma vez, o Líder da Oposição,
Afonso Dhlakhama, volte a fazer as mesmas exigências é porque certamente algo não
terá corrido a contento nos encontros até aqui havidos. Provavelmente, para além
da troca dos números de telefone entre ambas as partes, muito provavelmente
pouco se terá avançado nos pontos relevantes e por isso é que chegou-se ao
ponto actual.
Não restam
dúvidas de que deverá haver um encontro, o mais rapidamente possível, entre o
Presidente da República, Armando Guebuza e o Líder da Oposição, Afonso Dhlakama
e não importa que o mesmo se realize em Maputo, em Manica ou em Sofala mas que
seja de preferência em território moçambicano e que nesse encontro ambas as
partes estejam predispostas a discutir com franqueza e sinceridade as reivindicações
apresentadas pela RENAMO. Como cidadãos deste país não gostaríamos de voltar a
ouvir que trocaram somente os números de telefone e que se falam regularmente
ao telefone, o que os moçambicanos querem é que estas duas personalidades
discutam tudo quanto tenham para discutir e cheguem aos consensos necessários e
possíveis para que este assunto não volte mais a afectar a vida deste povo.
Enquanto
cidadãos deste país queremos continuar a usufruir da nossa santa paz e concórdia
entre nós e não iremos aceitar que alguém hipoteque a paz que é uma conquista
que muito sangue custou ao povo moçambicano e que todos temos a obrigação de
lutar para a sua preservação. Que Armando Guebuza e Afonso Dhalakama se encontrem,
conversem, acertem as diferenças e obtenham os consensos nacionais para que a
paz e a democracia se mantenha e floresça. Este é o desejo de todos os cidadãos
deste país comprometidos com a verdade e com a estabilidade. Nada de
radicalismo e de extremismos de ambas as partes.
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