Não
é novidade para ninguém que existe um descontentamento na função pública, particularmente
na carreira docente e nos profissionais de saúde, por sinal, os dois grupos
mais representativos da função pública moçambicana, devido aos baixos salários praticados
e a existência de diferenciação de salários entre funcionários da mesma
categoria ou carreira profissional mas que exercem as respectivas funções em
sectores diferentes dentro do Aparelho do Estado. Citemos por exemplo a diferença
salarial entre um profissional da educação ou da saúde quando comparado com outro
com a mesma categorial profissional mas que exerça as suas funções na Autoridade
Tributaria de Moçambique, nos Tribunais, no Banco Central de Moçambique ou em
outras instituições de soberania do nosso país. Ninguém está contra os salários
praticados nessas instituições mas convenhamos que é urgente encontrar-se um
mecanismo que permita uniformizar os salários dos funcionários públicos com
categorias profissionais similares e elevar-se os salários dos funcionários em
geral.
A
recente greve dos médicos é parte deste descontentamento e cujo desfecho final
poderá ou não contribuir para futuras greves de outros profissionais da função pública.
Portanto, cabe ao governo gerir este assunto de forma racional e estratégica e
evitar, a todo o custo, que durante as negociações, a emoção sobreponha-se á razão.
É
importante que neste caso em apreço (MISAU e AMM) ambas as partes estejam
predispostas a dialogar sem preconceitos e sem desconfianças mútuas cabendo ao
governo uma responsabilidade acrescida quanto ao desfecho final deste caso. As
alegações que têm sido avançadas acerca da existência de uma mão externa por
detrás desta reivindicação dos médicos, ou a atribuição de
adjectivos depreciativos a liderança da AMM em nada contribuí para um desfecho saudável
do mesmo. Certamente que haverá erros de ambas as partes mas, o mais importante
neste momento, não é buscar-se bodes expiatórios para se contornar a presente situação
mas sim sentar-se à mesa e discutir-se com objectividade e isenção a situação
buscando-se uma saída que acomode os interesses de ambas as partes a qual passa
necessariamente por cedências mútuas. A seriedade, serenidade, calma e isenção
que for dedicada na solução deste caso em particular certamente que terá um
efeito reprodutor relativamente aos outros casos semelhantes que possam ocorrer
no futuro visto que o problema apresentado pela AMM não é somente dos médicos
mas sim de toda a função pública.
É um facto que houve, nos últimos anos,
muitos avanços nas condições de trabalho e de vida dos funcionários públicos em
geral e dos médicos em particular, daí falar-se que 80% das reivindicações dos médicos
terem já sido satisfeitas mas, a principal reivindicação dos médicos e a reclamação
silenciosa dos restantes funcionários públicos ainda está muito longe de ser
satisfeita.
É
verdade que o nosso Estado ainda não é capaz de produzir as receitas necessárias
para atribuir aos seus funcionários salários condignos mas também é verdade que,
havendo uma melhor planificação e reorientação das despesas públicas, é possível
poupar-se os recursos existentes alocando-os na elevação dos salários actualmente
pagos pelo Estado. Não se pode continuar a perpetuar-se, por mais tempo, o
descontentamento e a desmotivação vivida na função pública sob o argumento de
que se está a trabalhar para se inverter as coisas. É preciso acelerar-se o
passo nesta caminhada visando conferir maior auto estima e mais motivação para
o trabalho na função pública.
De
nada valerá continuar a desperdiçar-se tempo e dinheiro á procura de uma mão externa,
por detrás deste problema, quando o mesmo é somente nosso e não adianta procurar
culpados fora das nossas fronteiras. Somos soberanos para entender o problema e
juntos encontrar as melhores soluções. É conversando que as pessoas se
entendem.
Da Legalidade desta greve.
Em algum momento, pareceu-me ter ouvido, de
um porta-voz do Ministério da Saúde (MISAU), que a greve dos médicos era ilegal.
Salvo melhor opinião, esta greve só seria ilegal se a Constituição da República
de Moçambique em vigor a proibisse, o que não é o caso. O facto de haver uma lacuna
na lei na é da responsabilidade do cidadão e sim do Estado. A Constituição da
República é de carácter obrigatório e cabe tanto ao Presidente da República
como aos Deputados da Assembleia da República garantirem o seu cumprimento
integral. Portanto, mais do que nunca, cabe ao Estado garantir que os cidadãos tenham
os seus direitos fundamentais assegurados e respeitados pelo Estado. A greve é
um destes direitos fundamentais que assiste a todos os cidadãos indiscriminadamente
e cabe á Assembleia da Republica legislar sobre a matéria o mais urgente possível.
Da Legitimidade do Presidente da Associação dos Médicos de Moçambique
(AMM).
Há ainda quem questione acerca da
legitimidade do Presidente da AMM em dirigir este processo pelo facto de o
mesmo não ser funcionário público ou ser funcionário público em regime de licença
registada. Pelo que se sabe, a AMM é uma associação dos médicos quer estes
estejam no sector público ou no sector privado. Portanto, não vejo onde está o
problema de a AMM ser dirigido por um associado que actue no sector privado e não
no sector público. Afinal a AMM é a Associação dos Médicos da Função Publica ou
é a Associação dos Médicos de Moçambique? Portanto se é a Associação dos Médicos
de Moçambique, a preocupação do MISAU deve cingir-se às exigências dos médicos
e não discutir acerca da legitimidade de quem lidera a AMM, pois quem
actualmente lidera a referida Associação não só é membro associado da mesma
como foi eleito pelos demais associados para os representar em nome da Associação.
Se até aqui as negociações entre o MISAU e
a AMM decorreram sob a égide desta mesma liderança como é que hoje pode-se
questionar a legitimidade desta mesma liderança? Afinal o MISAU andou este
tempo todo a negociar com uma representação ilegal e ilegítima? Por favor, não
deixemos que a emoção sobreponha-se à razão.
Apelo ao MISAU e à Associação dos Médicos
de Moçambique para que voltem a sentar-se à mesa e juntos procurem ultrapassar
as diferenças existentes sem preconceitos e sem tabus. E enquanto as negociações
decorrem que a Associação dos Médicos de Moçambique inste aos seus associados a
retomarem as actividades laborais o mais breve possível.
Apelo ao governo em geral que aproveite este
caso para estudar e implementar, a breve trecho, medidas que visem harmonizar
os salários na função pública e elevar-se os salários dos funcionários e
agentes do Estado em geral.
sou Moçambicano,estudando em são Paulo-Brasil.axo legitima a reclamação dos medicos,e gostaria k a mesma atitude fosse tomada pelos meus colegas da ONP(professores) k são marginalizados e resultado disso nivel baixissimo na Educação.sou professor Formado pela IFP mas por essa marginalização so stive na sala de aula no estagio,fiz a formação porque era meu sonho independetimente das marginalizações que sofremos o amor a camisola folou mais alto.
ResponderEliminarObrigado Daniel Alvaro pelo teu comentario. Vamos todos torcer para que ambas as partes cheguem a um consenso e tambem para que as condicoes salariais e de trabalho melhorem na funcao publica em geral. Concordo contigo quanto a necessidade de os professores serem mais actvos na defesa dos seus direitos. E preciso que a cidadania seja exercida de facto se queremos ser cidadaos de pleno direito do nosso pais. Abracos
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