A
mobilidade voluntária de pessoas e bens do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico
e vice e versa nem sempre ocorre de forma regular e condigna e nas condições
apropriadas de segurança como é o desejo de todos os cidadãos e o anseio do
Estado moçambicano. O fim da guerra, há mais de 20 anos, e o acelerado processo
de reconstrução das infra-estruturas básicas, nomeadamente estradas e pontes têm
estimulado esta mobilidade de pessoas e bens mas, muito ainda há por se fazer
para que a satisfação dos cidadãos nesta área seja de facto integral.
Portanto,
cabe a cada um de nós enquanto cidadãos de pleno direito deste país, contribuir,
cada um à sua maneira, com ideias que visem melhorar a mobilidade de pessoas e
bens de modo a estimular o desenvolvimento harmonioso e estável da nossa
sociedade, a consolidação da unidade nacional e a dignidade do cidadão. É
exactamente a pensar em tudo isso que julguei pertinente partilhar convosco
algumas ideias, que acredito válidas, para o processo de planificação
estratégica do desenvolvimento do nosso país.
A circulação
rodoviária ligando o norte ao sul de Moçambique ainda depende exclusivamente da
única estrada nacional (EN1) e, muitas das vezes, nas épocas chuvosas, a
circulação nesta via tem sido interrompida ou dificultada deixando pessoas e
bens à sua sorte e provocando avultados prejuízos à economia nacional e
transtornos ao cidadão. O transporte aéreo ainda não é acessível para a maioria
dos cidadãos e o monopólio da única companhia aérea a operar nestas rotas
dificulta ainda mais a mobilidade de pessoas e bens. O Transporte Ferroviário,
marítimo, fluvial e lacustre ainda é um sonho por ser realizado. Assim, poucas
são as opções que os cidadãos têm, neste momento, para poder circular condigna
e seguramente dentro do próprio território. Com este cenário, o ambiente de negócios
encontra entraves consideráveis com impactos ao nível dos custos elevados de
produção e comercialização de bens e serviços.
Penso
que valeria a pena reflectir-se sobre a possibilidade de, em parceria com o
sector privado, construir-se uma nova estrada ligando o norte e o sul de
Moçambique em alternativa a actual EN1 com portagens e demais infra-estruturas
que propicie segurança e dignidade aos cidadãos de modo a que a ligação entre o
norte e o sul não esteja dependente de uma única via de acesso. Paralelamente, poder-se-ia
ainda no âmbito desta parceria público-privado providenciar-se a ligação
marítima entre o Rovuma e o Maputo com barcos regulares de transporte de
pessoas e bens. O mesmo esforço poderia ser também estendido para a construção
de ramais de caminhos-de-ferro ligadas as linhas férreas existente e que
permitissem também a ligação entre o norte e o sul do nosso país. Em
complemento a estas iniciativas, julgo que poder-se-ia ainda, no âmbito desta
parceria com o sector privado, atrair-se investidores interessados também na
exploração do transporte fluvial que permitisse a ligação do interior para a
costa, permitindo por exemplo que as pessoas e bens do Zumbo pudessem
deslocar-se ao Chinde e dai pudessem deslocar-se por via marítima para o norte
ou para o sul de Moçambique. A circulação das pessoas e bens em redor do Lago
Niassa também poderia ser incentivada pelo Estado moçambicano juntamente com o
Malawi e a Tanzânia através de barcos periódicos e regulares ligando os três
países e permitindo a mobilidade das pessoas e bens ao redor do Lago e para
fora do mesmo.
A
este vasto e ambicioso projecto poder-se-ia atribuir o nome de Corredor de Moçambique. Muitos dirão
que este projecto poderá ser uma utopia à curto e médio prazo mas estou convicto
de que havendo vontade política e alguma imaginação e ousadia por parte dos
nossos actuais governantes, poder-se-ia lançar, ainda neste mandato
governamental, as bases para este projecto.
Devemos
ser capazes de aproveitar as vantagens competitivas que o nosso país apresenta
neste momento das descobertas de importantes jazigos de gás e carvão que
associados à localização estratégica do nosso território na SADC e o potencial
dos nossos portos e actuais caminhos-de-ferro para atrair e mobilizar parcerias
estratégicas que agilizem e viabilizem estas pretensões.
A
implementação de um projecto nestes moldes é, à partida, viável e económica e
politicamente consensual e poderia não somente contribuir para o nosso almejado
desenvolvimento como também para a promoção e consolidação da unidade nacional
e uma efectiva integração territorial e regional do nosso pais tanto no
contexto interno como no âmbito da SADC.
Acredito
que um projecto desta natureza, embora à partida pareça envolver custos
consideráveis e inacessíveis, trará um impacto real na qualidade de vida dos
Moçambicanos, com a diminuição do custo de vida, e no tão almejado combate à
pobreza absoluta bem como na diminuição das assimetrias regionais.
Acredito
também que com este tipo de projecto deixaríamos de viver situações como as que
acontecem actualmente em que numa parte do país há excedentes na produção
agrícola, a qual acaba por apodrecer e noutra parte do país chora-se pela falta
de comida.
Na
minha opinião, parte do financiamento estatal para este projecto poderia provir
de um dos fundos soberanos que o país pretende criar, à curto prazo, através
dos rendimentos provenientes da renegociação dos mega projectos.
No
meio das várias divergências e desentendimentos que normalmente caracterizam as
sociedades como a nossa, esta poderia ser uma oportunidade soberana para unir
todas as partes num objectivo comum: construir o Corredor de Moçambique e
contribuir decisivamente para o nosso almejado desenvolvimento económico e
social.